Entre 2014 e 2018, construção civil encolheu 30%; queda foi interrompida no ano passado

O ano de 2019 marcou o fim de uma retração que perdurou entre 2014 e 2018 no setor de construção civil. Atingido pela crise econômica, o segmento teve seu PIB (Produto Interno Bruto) encolhido em 30% no período, sequência interrompida no ano passado, principalmente devido aos ótimos resultados do 2º semestre. A estimativa do Sindicato da Indústria da Construção Civil de São Paulo (Sinduscon-SP) em parceria com a FGV (Fundação Getulio Vargas) é de crescimento de 2% em 2019 – foi de 1,7% até o 3T19.

Trata-se da primeira vez desde 2013 que a variação do PIB do setor supera a variação nacional. De acordo com o último relatório Focus, publicado em 3 de janeiro com projeções de mais de 100 instituições financeiras, o PIB do Brasil cresceu 1,17% entre janeiro e dezembro na comparação com 2018. Após um 1º semestre abaixo do esperado, a construção civil impulsionou o resultado nacional, tendo crescido 1,3% no 3º trimestre (o dobro do PIB total) em relação ao trimestre anterior e 4,4% na comparação com o mesmo período em 2018.

Dentro do segmento, vale destacar o protagonismo do mercado imobiliário, sobretudo pelo apetite dos consumidores para investimentos em reformas e construção própria de novas moradias. As edificações (prédios novos residenciais e comerciais), embora ainda não tenham decolado, também apresentaram significativos avanços no ano passado, com os lançamentos crescendo 23,9% no 3º trimestre e expectativa de aumento ainda maior no 4T19, cujos dados oficiais devem ser publicados somente em fevereiro.

A arrancada ocorrida entre julho e dezembro se deve à combinação de alguns fatores, como as seguidas reduções da Selic, inflação controlada, queda na taxa do desemprego e incentivos ao consumo das famílias, principalmente com a medida dos saques do FGTS. Em 2020, espera-se que a construção civil seja o motor do crescimento econômico brasileiro, avançando 3% segundo projeções da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) e do Sinduscon-SP/FGV. “Caso confirmado, será o maior incremento desde 2013, quando o setor registrou alta de 4,5%”, ressalta Ieda Vasconcelos, economista da CBIC.

“Acreditamos que a construção civil será o grande motor da economia esse ano. É um setor que tem a força necessária para impulsionar a economia: quanto mais ele cresce, mais o país se desenvolve, e é justamente isso que o Brasil precisa”, completa Vasconcelos.

Menor custo do crédito imobiliário

Concomitante às quedas da Selic, que fechou 2019 em 4,5% ao ano (menor patamar histórico), o custo do crédito imobiliário também caiu, com os principais bancos que financiam a habitação reduzindo suas taxas de juros em empréstimos para compra, reforma ou construção de imóveis. Outro ponto a se destacar é a maior participação do mercado de capitais, como de gestoras de fundos e securitizadoras, aumentando a concorrência para os bancos nas linhas de financiamento.

Com a inflação controlada, a Caixa obteve autorização do Banco Central para lançar a modalidade de crédito corrigida pelo IPCA, iniciativa implementada com pioneirismo em agosto. Nos primeiros 45 dias, o banco estatal recebeu solicitações no total de R$ 10 bilhões em empréstimos habitacionais, volume que era esperado para o período de 1 ano, conforme afirmou na época o presidente Pedro Guimarães.

As projeções do relatório Focus são de inflação ainda mais baixa nos próximos anos, encerrando 2020 na casa dos 3,60%, com ligeiro aumento em 2021 para 3,75% e novo recuo em 2022 para 3,50%. Já a Selic deve cair ainda mais nos primeiros meses do ano, para 4,25% a.a., encerrando 2020 a 4,50% a.a. (patamar atual). Em 2021, a taxa básica de juros deve subir para 6,50% a.a., segundo as instituições financeiras que compõem o relatório.

Recorde de recursos aplicados em FIIs

A retomada do mercado imobiliário é causa e consequência do que ocorreu com os fundos imobiliários (FIIs) em 2019. De um lado, os melhores resultados do setor motivaram os investidores a aplicar suas finanças nesses fundos; de outro, essa retomada muito se deveu à maior quantidade de recursos disponibilizados, já que mesmo os investidores mais conservadores migraram da renda fixa para a renda variável – com a Selic baixa, a renda fixa deixou de valer a pena.

De acordo com a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), a captação de recursos nos fundos imobiliários foi de R$ 35,7 bilhões no ano passado, mais que o dobro em relação a 2018 – que até então era o melhor resultado dos FIIs na série medida desde 2013. Ainda segundo a associação, o patrimônio líquido desses fundos em novembro era de R$ 103 bilhões, 20% a mais do que em dezembro de 2018.

A tendência é de novos recordes em 2020, que se traduzem em mais recursos disponíveis para aplicação em projetos imobiliários.

Maior número de vagas formais abertas desde 2013

Outro indicador importante vem do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, responsável por mensurar as contratações e demissões nos empregos com carteira assinada. No período entre janeiro a novembro de 2019, a construção civil abriu 117,2 mil vagas, melhor resultado desde 2013 (182,4 mil). O montante representa 13% de todas as vagas formais de trabalho criadas no ano passado.

Em novembro, o saldo foi negativo em 7.390 vagas, algo comum para o mês, que mesmo em 2013 mais fechou do que abriu postos de trabalho no setor (- 31,7 mil). “Esse resultado negativo em novembro já era aguardado. Novembro e dezembro são considerados meses sazonais e os resultados no mercado formal de trabalho são negativos”, explica Vasconcelos.

Apesar das 117 mil vagas, o setor permanece distante de alcançar a quantidade de trabalhadores registrada antes da crise econômica. “O resultado positivo sem dúvida é um destaque e é muito importante, mas está longe de ser considerado satisfatório. O setor perdeu, de 2014 a 2018, quase um milhão de trabalhadores com carteira assinada. Portanto, é preciso que a construção civil continue com seu crescimento para gerar emprego e renda. Isso é importante não só para o setor, mas especialmente para o Brasil” avalia a economista.

Recursos da União voltados exclusivamente para faixa 1 

Finalmente, outra boa notícia para o mercado é o foco do governo federal na faixa 1 do novo programa habitacional que está sendo desenhado. Independentemente do formato, é certo que as demais faixas não dependerão de recursos públicos para funcionar, já que os subsídios serão exclusivamente do FGTS. No ano passado, a falta de verba pública travou contratações e paralisou obras.

Em dezembro, o Conselho Curador do FGTS aprovou o orçamento do fundo para 2020, reservando R$ 65 bilhões para investimentos em habitação.

Fonte: Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas

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